Página rasgada, mas nunca esquecida. . .
Sentada, no parapeito da janela, sorrindo, e baloiçando a sua crença na infelicidade gozando-a, olhava os pássaros e os insectos. Sim, invejava-os de uma certa forma. Nao é que não se sentisse uma pessoa vulgar, e não é que nao gostasse de o sentir, mas acreditava que um dia iria vora. Eu, acreditava como ela. Para ela, a sua vida era a felicidade com maus momentos e nunca a infelicidade com bons momentos. Ás vezes, muito raramente e por escassos segundos, perguntava-se a si mesma, porque era feliz. Pensava nas pessoas que morriam à fome, e perguntava-se: "Porquê que eu nao sou uma daquelas pessoas?". Ás vezes, eu sei que ela daria tudo para que uma pessoa com dificuldades de apoderasse da sua vida...Eu sei, que ela amava a vida. Ela dizia que nada na vida era fácil, e para ela, todas as recaídas eram enfrentadas com um sorriso, com um discreto levantar do seu nariz e um seguir sempre com ar triunfante. Amava a pessoa que era e nunca, mas nunca disse mal da vida. Ela dizia, que a vida dela nao era uma pessoa, mas sim, um grande livro, onde a principal autora era ela. Também chorava, como disse, tinha orgulho em ser a pessoa vulgar que era. Mas quando chorava, tinha sempre um sorriso guardado para qualquer um. Mas hoje, um sentimento de tristeza e revolta invadia-me. Como era possivel que tudo aquilo acontecesse?
Naquele dia, entrei no bar, como habitual, sentei-me, tirei um cigarro e pedi dois cafés. Tinha recebido uma mensagem dela a dizer que estava quase a chegar. Peguei no café e derrepente, num momento mais do que instintivo, deixei cair a chávena, recontei o momento num segundo quase cortado pela aflição, levantei-me e corri para a porta. Olhei para o passeio do lado direito e larguei um sufocante "NAO" abafado pela visão mais aterradora que jamais tivera tido. Corri para a berma da estrada e lá estava ela. Deitada no alcatrão quase derretido pelo calor da travagem. Olhei, uma lagrima escorreu-me, decidida a deixar um rasto de desafio, pedindo desesperadamente por mais. O meu corpo, quente e frio, descontroladamente odiado, tremia como aquele ar estranhamente trémulo a que chamam de gás. Olhei-a novamente, deixei me cair de joelhos no chão, peguei-lhe na mão e apertei com toda a força, as lágrimas voltaram, agora com muito mais intensidade, deixei cair a minha cabeça no seu corpo ensanguentado e fechei os olhos. Todos aqueles instantes de segundos, eram nada mais, nada menos que puras lembranças frias. Mas tudo aquilo que seria uma vida, iria ser uma vida activa, inesquecível e exemplar. Lembrei-me do café frio que estava no bar, esperando por alguém que nunca o iria beber. Lembrei-me da hipótese de ela ter realizado o seu sonho. Terá ela voado? Como os pássaros e os insectos? Lembrei-me da paixão pela vida que ela insistia em demonstrar. Lembrei-me do seu sorriso, sim, aquele sorriso lindo e consolador. Lembranças que não eram apenas lembranças, mas sim momentos e sensações nunca esquecidas. Logo os meus pensamentos foram interrompidos pelo som das ambulâncias. Falavam-me num tom algo estrondoso para me afastar do corpo. Eu não larguei a mão, mas fui quase que projectada para o passeio. Levaram-na.
É assim que me lembro desse dia hoje. Amava aquela miúda e orgulho-me dela ainda hoje e para todo o sempre. Porque eu sei que num dia longinquo, as páginas da vida vão todas ser rasgadas, mas nunca esquecidas. Amo a minha vida, sigo o melhor exemplo que já alguma vez existiu e sou feliz como e com ela. *
Naquele dia, entrei no bar, como habitual, sentei-me, tirei um cigarro e pedi dois cafés. Tinha recebido uma mensagem dela a dizer que estava quase a chegar. Peguei no café e derrepente, num momento mais do que instintivo, deixei cair a chávena, recontei o momento num segundo quase cortado pela aflição, levantei-me e corri para a porta. Olhei para o passeio do lado direito e larguei um sufocante "NAO" abafado pela visão mais aterradora que jamais tivera tido. Corri para a berma da estrada e lá estava ela. Deitada no alcatrão quase derretido pelo calor da travagem. Olhei, uma lagrima escorreu-me, decidida a deixar um rasto de desafio, pedindo desesperadamente por mais. O meu corpo, quente e frio, descontroladamente odiado, tremia como aquele ar estranhamente trémulo a que chamam de gás. Olhei-a novamente, deixei me cair de joelhos no chão, peguei-lhe na mão e apertei com toda a força, as lágrimas voltaram, agora com muito mais intensidade, deixei cair a minha cabeça no seu corpo ensanguentado e fechei os olhos. Todos aqueles instantes de segundos, eram nada mais, nada menos que puras lembranças frias. Mas tudo aquilo que seria uma vida, iria ser uma vida activa, inesquecível e exemplar. Lembrei-me do café frio que estava no bar, esperando por alguém que nunca o iria beber. Lembrei-me da hipótese de ela ter realizado o seu sonho. Terá ela voado? Como os pássaros e os insectos? Lembrei-me da paixão pela vida que ela insistia em demonstrar. Lembrei-me do seu sorriso, sim, aquele sorriso lindo e consolador. Lembranças que não eram apenas lembranças, mas sim momentos e sensações nunca esquecidas. Logo os meus pensamentos foram interrompidos pelo som das ambulâncias. Falavam-me num tom algo estrondoso para me afastar do corpo. Eu não larguei a mão, mas fui quase que projectada para o passeio. Levaram-na.
É assim que me lembro desse dia hoje. Amava aquela miúda e orgulho-me dela ainda hoje e para todo o sempre. Porque eu sei que num dia longinquo, as páginas da vida vão todas ser rasgadas, mas nunca esquecidas. Amo a minha vida, sigo o melhor exemplo que já alguma vez existiu e sou feliz como e com ela. *